Publicado no último dia 1º de junho no New England Journal of Medicine, o estudo CHALLENGE (Colon Health and Lifelong Exercise Chance) traz evidências de que um programa estruturado de exercícios físicos pode melhorar significativamente a sobrevida e a qualidade de vida de pacientes com câncer colorretal e foi considerado um marco na oncologia comportamental.
Conduziu-se a pesquisa ao longo de 15 anos em 55 centros médicos, principalmente no Canadá e na Austrália. Durante esse período, os pesquisadores acompanharam 889 pacientes com câncer colorretal que haviam feito a cirurgia e concluído a quimioterapia adjuvante, procedimento padrão no tratamento. Eles foram divididos aleatoriamente em dois grupos. Um recebeu apenas material educativo sobre saúde e bem-estar, enquanto o outro participou de um programa estruturado de exercícios físicos por três anos, com acompanhamento profissional.
Quais foram os resultados? 444y6a
Os resultados são notáveis: após um acompanhamento de quase oito anos, a sobrevida livre de doença em cinco anos foi de 80,3% na turma que praticou exercícios, contra 73,9% no grupo controle. A sobrevida global em oito anos também foi significativamente maior entre os que se exercitaram - 90,3% em comparação a 83,2% do controle. Isso representa uma redução relativa de 37% no risco de morte ou de 6% em termos absolutos, reforçando o impacto clínico dessa intervenção não farmacológica.
"Essa é uma diferença bastante significativa. É um resultado muito próximo do que alcançamos com a quimioterapia", destaca o oncologista clínico Diogo Bugano, do Hospital Israelita Albert Einstein, que acompanhou a apresentação do trabalho presencialmente na ASCO. "Importante dizer que o exercício não substitui o tratamento e todos os pacientes do estudo fizeram a quimioterapia, além da atividade física. E o estudo mostra que a atividade física foi tão importante quanto fazer a quimioterapia".
O impacto dos exercícios 3h15v
O programa de exercícios físicos foi desenhado para promover a prática segura e eficaz de atividades físicas entre sobreviventes do câncer. Nos primeiros seis meses, os pacientes participaram de 12 sessões presenciais de apoio comportamental e 12 sessões de exercícios supervisionados. A meta era alcançar ao menos 10 MET-horas de atividade física moderada a vigorosa por semana. Isso é equivalente a, por exemplo, 150 minutos de caminhada rápida.
Nos dois anos e meio seguintes, mantiveram-se a intervenção com sessões mensais e e remoto. Além dos benefícios na sobrevida, os pacientes ativos apresentaram melhorias consistentes na aptidão física, como maior consumo máximo de oxigênio e maior distância percorrida em testes de caminhada. A função física autorrelatada também melhorou de maneira significativa, apontando ganhos na qualidade de vida. Curiosamente, o peso corporal e a circunferência abdominal dos participantes não apresentaram grandes mudanças. Este resultado sugere que os benefícios do exercício estão mais ligados a mecanismos metabólicos, inflamatórios e imunológicos do que à perda de peso em si.
Qual é a relevância do estudo? 9lm
Para Bugano, esses achados têm grande relevância para a prática médica, pois evidenciam que a atividade física estruturada deve ser considerada parte do tratamento do câncer. "Quando termina a quimioterapia, muitos pacientes perguntam o que mais podem fazer para evitar que a doença volte. Agora, temos uma evidência sólida de que o exercício físico tem um papel essencial nesse cuidado", observa o oncologista.
De acordo com o especialista, o exercício deve receber a mesma atenção que a quimioterapia, e o profissional de educação física a a ter um papel tão relevante quanto o do próprio oncologista no cuidado com o paciente. Mas não é preciso ter pressa nem se cobrar demais. No estudo, os participantes começaram a se exercitar em média três meses após o fim da quimioterapia, e mantiveram a prática por pelo menos dois anos. O importante é começar!
Dieta também interfere 2j1z6g
Esses achados ganham ainda mais relevância quando analisados junto a dados apresentados no mesmo congresso. Nele, discute-se o papel da dieta na sobrevida de pacientes com câncer colorretal. Um estudo liderado por especialistas do Dana-Farber Cancer Institute, nos Estados Unidos, analisou a dieta autorrelatada de 1.625 pacientes e mostrou que aqueles que mantinham uma alimentação baseada em produtos considerados inflamatórios (carne vermelha, carne de porco, ultraprocessados e alguns tipos de peixes) tinham um risco 87% maior de morte em comparação com os que seguiam dietas menos inflamatórias (baseada em vegetais, carnes brancas e oleaginosas).
"O estudo analisou especificamente pacientes com câncer de intestino e, embora não tenha comprovado uma redução nas recidivas da doença, mostrou que uma dieta saudável está associada a uma menor mortalidade, tanto por câncer quanto por outras causas", explica Diogo Bugano. Isso indica que, se o câncer voltar, os desfechos tendem a ser piores em pacientes com uma alimentação inflamatória. O oncologista também enfatiza que se trata de um estudo observacional. Ou seja, mostra uma associação importante, mas não estabelece uma relação de causa e efeito direta.
A combinação de dieta saudável e atividade física regular pode, portanto, ser uma abordagem sinérgica para melhorar o prognóstico de pacientes com a doença. Inclusive, médicos devem considerar a "prescrição" de um estilo de vida saudável como parte do tratamento oncológico. Afinal, não basta tratar o câncer, é preciso cuidar do paciente de forma integral, com orientação sobre comportamento, nutrição e movimento.
*Texto escrito em parceria com Fernanda Bassette, da Agência Einstein