Script = https://s1.trrsf.com/update-1749766507/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Diretora de 'Animale' fala sobre filme, paixão pelo universo dos touros e a revelação do final 3n3w4

Filme de Emma Benestan equilibra realismo e fantasia para contar uma história de resistência 5w6k3y

25 mai 2025 - 19h46
Compartilhar
Exibir comentários

Animale, filme em cartaz nos cinemas, teve uma espécie de pré-estreia no Brasil, em agosto de 2024, quando foi exibido em um festival da Pandora Filmes - e foi apresentado por sua criadora, Emma Benestan. Na ocasião, a cineasta sa conversou com a reportagem no Belas Artes. 1l6q2p

Ela estava apaixonada por seu filme. É o quarto de sua carreira e, talvez, o mais pessoal. Ela nasceu perto do local onde se a a história e, mesmo sem viver aquilo na pele, conheceu quem viveu. Entende aquela vida. "É um território que eu conheci quando era mais jovem, e que sempre teve um significado muito forte para mim", resume a cineasta.

Há, no coração da história, uma trama de resistência. Em um ambiente dominado por homens, numa cidade conhecida por suas touradas, está Nejma (Oulaya Amamra), uma jovem que desafia os limites físicos e sociais impostos a ela. À medida que os perigos da arena se intensificam, também crescem as tensões em suas relações com os colegas, enquanto rumores sobre um touro selvagem ampliam o clima de ameaça enquanto ela se firma como uma mulher naquele espaço.

Na conversa a seguir, Emma Benestan fala sobre as lembranças de Camargue, a cidade onde se a a história; os desafios de fazer "cinema de gênero"; e as opções para narrar a jornada de Nejma.

De onde surgiu a ideia para o filme? 3q5it

Cresci a cerca de 45 minutos do lugar onde filmei. É um território que conheci quando era mais jovem, e que sempre teve um significado muito forte para mim. Desde pequena eu já tinha uma paixão pelo universo do touro. Já havia feito dois documentários sobre as touradas de Camargue, inclusive um deles focado na única mulher que encontrei participando disso. E como eu adoro filmes de gênero, sempre pensei que a tourada de Camargue tem algo de mágico. Eu dizia para mim mesma: 'Preciso fazer um filme de gênero com esse personagem, com essa arena'. Então essa vontade veio de tudo isso: da minha relação com o território e também de um desejo muito forte de falar sobre violência, sobre a presença feminina num ambiente tradicionalmente masculino, muitas vezes hostil, quase de horror.

A história de 'Animale' é centrada na jovem Nejma, que busca a realização de um sonho
A história de 'Animale' é centrada na jovem Nejma, que busca a realização de um sonho
Foto: Pandora Filmes/Divulgação / Estadão

Falando nisso, como você enxerga o potencial do cinema de gênero — seja faroeste, horror ou fantasia — para abordar questões como a violência de gênero? Costuma-se dizer que este tipo de cinema não é o caminho natural para esse tipo de reflexão. 2j633a

Aprendi com Buffy, a Caçadora de Vampiros o que é o gênero. Aprendi sobre amizade, sobre traumas adolescentes. E também sobre sexualidade e identidade de gênero com personagens como Willow, que fala de homossexualidade. Mais tarde, continuei interessada por filmes de gênero que fossem políticos, como Corra!, sobre racismo, ou [REC], sobre luta de classes. Eu gosto quando o gênero permite esse tipo de metáfora. Tudo isso é uma metáfora, e eu acho que o público jovem, em particular, entra mais facilmente nessas questões quando elas vêm disfarçadas pela magia do fantástico. E vejo que há uma nova onda de cineastas mulheres, inclusive no Brasil, que estão usando o gênero para contar histórias sobre o corpo, o rosto, o lugar da mulher. Isso traz outras visibilidades, outras formas de narrar.

Trabalhar com esse realismo fantástico foi uma experiência muito diferente das que você já teve? 2494d

Muito diferente. O cinema de gênero exige muito mais planejamento e organização. É preciso saber exatamente onde os efeitos especiais vão entrar, ter uma equipe maior, com profissionais especializados, como maquiagem e efeitos visuais. Tudo tem que estar coordenado desde o início. Depois da filmagem, vivi uma experiência inédita: amos três meses em pós-produção criando um touro do zero, algo que não existia fisicamente durante a filmagem. Foi a primeira vez que criei algo completamente na pós.

'Animale' tem como pano de fundo o mundo das touradas
'Animale' tem como pano de fundo o mundo das touradas
Foto: Pandora Filmes/Divulgação / Estadão

Você trabalhou bastante com não-atores, pessoas locais, inclusive sem o uso de muitos dublês. Por que essa escolha? 4tb2b

Isso foi fundamental. Não teria sido possível fazer as cenas com os touros, por exemplo, com atores profissionais. Eles teriam que chegar com pelo menos seis meses de antecedência para se preparar. Não dá pra "ensinar" alguém a lidar com um touro em tão pouco tempo. Isso fazia parte do DNA do filme. Há cenas com cavalos sem sela, com a laçada final... Tudo isso foi escrito no roteiro, mas só poderia ser feito por quem vive nesse ambiente. Em Camargue, dizem que há mais animais do que habitantes. As pessoas estão muito conectadas a eles. Eu gosto de um cinema que mostra territórios pouco vistos. Penso, por exemplo, em O Som ao Redor, um filme que adoro. Ele é escrito realmente para o Recife, para aquele lugar. Camargue, para mim, é um personagem. Eu queria respeitar como as pessoas falam, como se vestem, como se relacionam com os touros. Esse respeito era essencial.

Uma questão sobre a escolha narrativa do filme: a revelação do que aconteceu com a protagonista só acontece no final. Por que guardar isso até o fim? 1w4z6n

Porque o filme também é sobre denúncia, sobre o que se projeta num território, sobre o que se diz — ou não — sobre si mesmo. Eu queria que o espectador entrasse na pele dessa heroína que se questiona o tempo todo. A revelação final precisava causar algo forte, e foi assim que escrevi o filme. É uma revelação que muda tudo, depois dela nada é mais como antes. Não queria que ela viesse no meio da trama, mas sim ao final, para que o filme permanecesse aberto, com perguntas sem respostas definitivas. As pessoas me perguntaram: 'Mas depois disso ela vai em direção aos touros? Aos homens?'. E eu digo: 'sim, ela vai'. E isso fica em aberto. Essa revelação final, para mim, é o momento em que se interroga a própria violência. Ela queria que o espectador também se perguntasse: 'onde está o bem? Onde está o mal? Onde está o perigo?' Como estamos o tempo todo vendo o filme pelos olhos da protagonista — e ela própria não sabe exatamente o que aconteceu —, o público também só pode descobrir junto com ela. Esse final aberto é sobre isso.

Estadão
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade